Wednesday 9 June 2010

Experiências fora do Brasil

Hoje foi um dia bem complicado por aqui por conta de umas solicitações extras a atender. Mas foi bom porque pude pensar um pouco mais sobre as perguntas que me fazem e certamente me farão logo mais, quando eu retornar ao Brasil.

Eu tenho muitos alunos que vivem fora do Brasil, ou que já tiveram uma experiência (a que, equivocadamente chamam de intercâmbio) e também tenho coleções dos que estão esperando a oportunidade.

E finalmente eu tive a minha, do jeito que eu sempre imaginei.
Um convite de uma instituição muito séria (a Universidade de Surrey é hoje a segunda melhor em Turismo no mundo), o apoio da USP, que me permitiu sair por estes meses, a estrutura excelente de acomodação e de trabalho aqui. E muito apoio por parte dos meus colegas no Brasil.

Mas não é assim que acontece com a grande maioria dos estudantes. Eles saem do Brasil para aprender um outro idioma e para aceitar posições de trabalho mal remuneradas em turnos estranhos. Muitos, senão todos, aceitam dobrar turnos, trabalhar por mais de 12 horas por dia. Fazem coisas que, como filhos de classe média e classe média alta no Brasil, jamais devem ter feito em sua própria casa, isto é, lavam banheiros, lavam pratos, servem bêbados, aguentam reclamações. E ganham dinheiro, claro. E moram muitas vezes em situação ruim, distantes, dividindo quartos e a privacidade.

E quando se cansam, voltam ao Brasil na expectativa de ter acesso a melhores empregos ou oportunidades. E eu penso. Com o que? O que é mesmo que uma pessoa que passou um ou dois anos trabalhando em sub-empregos tem a oferecer para um país onde esse tipo de mão-de-obra é excendente? Mais que isso, é criativa e disposta a enfrentar agruras inimagináveis...

Será que ao voltar, o pique será mantido? Ou vai se pretender voltar ao estilo de vida da família?

Eu hoje avaliei a minha experiência aqui no Reino Unido. Foi extremamente válida. Mesmo. Não poderia ser melhor. Tive chance de fazer uma viagem incrível para dentro dos meus valores e dos meus objetivos, e para descobrir que a minha vida só é assim porque ela foi construída no meu país, com as minhas referências, e é para lá que eu vou levar o que aprendi aqui. Claro, sempre pensando em voltar para cá ou para qualquer outro lugar onde se possa aprender a olhar diferente, e se possa valorizar o que existe de bom bem pertinho da gente.

Pensar em carreira não é realmente pensar em emprego. É pensar em como você constrói suas relações e suas referências. Grande parte do que você se torna tem a ver com o que as pessoas perceberam de você. Ou seja, é melhor trabalhar direito e perto daqueles que podem sim te indicar caminhos e abrir portas no futuro.

4 comments:

  1. Adorei o texto. Concordo com tudo. Posso ser sua amiga?
    Beijos

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  2. Muito bom Mariana! Reflexão que deveria ser compartilhada por muito mais pessoas que as leitoras deste blog...

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  3. Loser....2ª do Mundo....

    Para mim, "viagem incrível para dentro dos meus valores" é abrir a carteira, procurar e pegar a nota de 2 real.

    beijo na branca !

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  4. Muito bacana. Refleti sobre e gosto de pensar que, para a maioria, a experiência valha, se não para assumir melhores posições no mercado, para transitar melhor pelas relações na vida! Já para você, conseguir transformar a experiência em reflexão como tem conseguido fazer, é atributo de poucos! Parabéns pela coragem no mergulho. Um beijo.

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