Wednesday 17 June 2015

Plano Municipal de Turismo de São Paulo: 2015-2018

Acreditar, eu acredito em poucas coisas. Acreditar mesmo, assim, de verdade.

Uma delas é na máxima que as coisas só mudam quando você começa a mudar. E muda o olhar, muda o pensar, muda o agir. E aos poucos troca ideias, fortalece argumentos, e vai mudando.

Eu honestamente acredito que é preciso olhar diferente para o Turismo de São Paulo. E digo de São Paulo por ser a cidade que eu escolhi para mim, a cidade que eu amo com todos os seus defeitos, e com todas as suas qualidades. Poderia ser outra cidade, poderia até ser o Brasil. Mas é São Paulo.

Há anos procuro entender o que pode ser feito diferente. Há anos estabeleço comparações e converso com pessoas de vários países para coletar ideias e impressões. Um dos resultados deste trabalho apaixonante tomou corpo em 17 de junho de 2015 - algumas das minhas ideias foram adaptadas e acolhidas no Plano Municipal de Turismo da Cidade de São Paulo, vigente de 2015 a 2018. 

A convite da São Paulo Turismo - leia-se Luciane Leite, Fernanda Ascar e Raquel Vettori - colaborei nos debates e na construção de todo o documento, tendo o privilégio de redigir o texto de encerramento, que convida a uma mudança de olhar. 

Continuo a acreditar que é possível fazer diferente, e para isso é preciso tentar.

Desafios do Turismo em São Paulo

O maior desafio à gestão pública do destino São Paulo é fazer com que o Turismo na cidade seja reconhecido como uma atividade prioritária para seu desenvolvimento, em diversos aspectos, atraindo a atenção política necessária para aumentar o orçamento dedicado a projetos que gerem mais empregos, distribuam renda e criem oportunidades para moradores em todas as áreas da metrópole, diversificando ainda mais sua economia.

A falta de prioridade para o Turismo no orçamento municipal é histórica e possui diversas possíveis explicações, e a mudança desse status acontecerá no momento em que o poder público atribuir à atividade novo significado político, social e econômico na cidade de São Paulo.

Em meio aos diversos desafios vinculados à gestão desta metrópole, considerá-la como centro de negócios e inovações do país é fundamental. É aqui que nascem e se desenvolvem grande parte das tecnologias inovadoras que trarão significativas mudanças na vida dos brasileiros. E também se produz muito conhecimento, onde pesquisas são realizadas e compartilhadas, e patentes são registradas.

Muitos empreendedores aqui se encontram com seus potenciais patrocinadores e clientes. Novos procedimentos no tratamento da saúde são desenvolvidos. Novas ideias surgem e se tornam realidade em São Paulo, graças à imensa concentração de pessoas e empresas, gerando oportunidades para qualquer tipo de negócio.

São Paulo cresce pelos encontros que proporciona, e é no acolhimento a todos que aqui vem em busca de aprimoramento que a cidade será reconhecida como a capital de negócios da América Latina.

São diversas as mudanças necessárias, a começar pela releitura de quem é o visitante em São Paulo, o que ele vem fazer, e o que ele demanda. Seus anseios por segurança e mobilidade são os mesmos de todo o residente, e é fundamental que ele possa ter informação precisa em idiomas diferentes. Seja em táxis, metrô, ônibus ou nas ciclofaixas, todo turista deve estar apto a trilhar seu caminho e chegar a seu destino com segurança.

O número de visitantes aumenta no mesmo ritmo em que a economia se movimenta, e aumenta também a demanda por profissionais qualificados, capazes de atender solicitações em diversas frentes – atendimento ao turista, hospitalidade, eventos, gastronomia, entretenimento, compras, saúde, cultura e lazer. Nossas instituições de ensino devem estar preparadas para orientar os jovens na escolha de carreiras promissoras e de rápida empregabilidade. Da mesma forma, devem abrir portas aos profissionais que buscam novas opções, novos conceitos, alternativas para mudança de carreiras.

Investidores buscam parceiros, e empresários anseiam por novas oportunidades para ampliar seus negócios, de modo que facilitar o acesso às informações, reduzindo as etapas burocráticas em busca da efetiva concretização de negócios é fundamental para que mais gente esteja aqui, gerando ideias e riqueza ao município.

Romper com os padrões tradicionais na abordagem do desenvolvimento do turismo municipal foi o primeiro passo. Cabe agora apresentar dados e indicadores cuja substância permita a implantação de ações e projetos com resultados facilmente mensuráveis.  E argumentar pela inclusão do turismo nas pautas primordiais das diversas instâncias do governo municipal.

São Paulo apresenta um desafio diário para quem aqui reside, e ainda assim revela-se acolhedora e surpreendente. São Paulo seduz o visitante por seus contrastes, e pode, efetivamente, ter resultados bastante positivos se, de maneira coerente e direcionada, dedicar-se a acolher melhor os quase 15 milhões de visitantes que a tem como destino.

A partir de agora, não basta apenas vontade política. São necessárias ações políticas em prol de um destino competitivo e atraente, que reflita sua posição de líder e gerador de tendências.

Dra. Mariana Aldrigui
Professora e pesquisadora da EACH/USP na área de turismo urbano, autora da tese Cidade Global, Destino Mundial - turismo urbano em São Paulo;


Monday 8 June 2015

Teorias no retrovisor

Há algum tempo eu ouvi que a maioria dos pesquisadores em Turismo parecem dirigir olhando pelo retrovisor. Só conseguem se orientar pelo que já passou, pelo que aconteceu em seu caminho individual. Não olham para o lado nem para a frente, portanto é possível deduzir que o resultado virá mais pela sorte e não necessariamente será bom.

Achei a metáfora muito interessante, e frequentemente recorro a ela, na talvez ingênua busca de não repetir este tipo de equívoco.

Há poucos meses, o diretor-científico da FAPESP[1], Carlos Henrique de Brito Cruz, disse que “o impacto intelectual da ciência feita no Brasil tem sido muito baixo”. Impacto intelectual se caracteriza por ideias que criam ideias e que são então muito citadas na literatura científica mundial.

Fiquei pensando no impacto intelectual das pesquisas sobre Turismo no Brasil. Não me lembro da criação de um modelo, ou da sugestão de uma abordagem que fosse gerada no Brasil e replicada em algum outro lugar do mundo.

Dos exemplos cotidianos, fico me perguntando – se você estudou turismo e leu tudo o que te pediram, quantas vezes conseguiu comprovar que a proposta de fato acontecia? Quantas vezes um dado comportamento se repetiu na sua frente, para ser caracterizado como replicável, e portanto enquadrado em uma teoria?

E os planos diretores que você leu, ou contribuiu, foram implantados? E monitorados? Trouxeram o resultado que se esperava? Que cidades são os melhores exemplos de aplicação das teorias, e que você tem certeza que funcionam?

Na minha opinião, as teorias do turismo refletem o passado. Elas devem ser compreendidas como tentativas de explicar algo que na verdade precisa ser vivenciado, experimentado, aprendido com olhar de cliente e com olhar de prestador de serviço. Não ensina a servir quem nunca serviu, não ensina a fazer quem nunca fez (apesar de alguns ditados dizerem o contrário).

As teorias (do turismo, no caso) servem para que você duvide delas o tempo todo, e se preocupe em entender o que de fato está acontecendo ao seu redor, e o que está por acontecer. Como foi é importante para registro histórico, mas dificilmente será da mesma forma novamente.

As pessoas mudaram, muito. Seu comportamento hoje reflete uma mudança na forma como obtém informações e como tomam decisões. Elas não agem mais como diziam os livros de 1970, 1990 e até 2000. Elas agem como você e eu.

Então cuidado, pode ser que você tenha escolhido seguir alguém que está dirigindo olhando pelo retrovisor.



[1] Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo