Monday 8 June 2015

Teorias no retrovisor

Há algum tempo eu ouvi que a maioria dos pesquisadores em Turismo parecem dirigir olhando pelo retrovisor. Só conseguem se orientar pelo que já passou, pelo que aconteceu em seu caminho individual. Não olham para o lado nem para a frente, portanto é possível deduzir que o resultado virá mais pela sorte e não necessariamente será bom.

Achei a metáfora muito interessante, e frequentemente recorro a ela, na talvez ingênua busca de não repetir este tipo de equívoco.

Há poucos meses, o diretor-científico da FAPESP[1], Carlos Henrique de Brito Cruz, disse que “o impacto intelectual da ciência feita no Brasil tem sido muito baixo”. Impacto intelectual se caracteriza por ideias que criam ideias e que são então muito citadas na literatura científica mundial.

Fiquei pensando no impacto intelectual das pesquisas sobre Turismo no Brasil. Não me lembro da criação de um modelo, ou da sugestão de uma abordagem que fosse gerada no Brasil e replicada em algum outro lugar do mundo.

Dos exemplos cotidianos, fico me perguntando – se você estudou turismo e leu tudo o que te pediram, quantas vezes conseguiu comprovar que a proposta de fato acontecia? Quantas vezes um dado comportamento se repetiu na sua frente, para ser caracterizado como replicável, e portanto enquadrado em uma teoria?

E os planos diretores que você leu, ou contribuiu, foram implantados? E monitorados? Trouxeram o resultado que se esperava? Que cidades são os melhores exemplos de aplicação das teorias, e que você tem certeza que funcionam?

Na minha opinião, as teorias do turismo refletem o passado. Elas devem ser compreendidas como tentativas de explicar algo que na verdade precisa ser vivenciado, experimentado, aprendido com olhar de cliente e com olhar de prestador de serviço. Não ensina a servir quem nunca serviu, não ensina a fazer quem nunca fez (apesar de alguns ditados dizerem o contrário).

As teorias (do turismo, no caso) servem para que você duvide delas o tempo todo, e se preocupe em entender o que de fato está acontecendo ao seu redor, e o que está por acontecer. Como foi é importante para registro histórico, mas dificilmente será da mesma forma novamente.

As pessoas mudaram, muito. Seu comportamento hoje reflete uma mudança na forma como obtém informações e como tomam decisões. Elas não agem mais como diziam os livros de 1970, 1990 e até 2000. Elas agem como você e eu.

Então cuidado, pode ser que você tenha escolhido seguir alguém que está dirigindo olhando pelo retrovisor.



[1] Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo

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