Há
algum tempo eu ouvi que a maioria dos pesquisadores em Turismo parecem dirigir
olhando pelo retrovisor. Só conseguem se orientar pelo que já passou, pelo que
aconteceu em seu caminho individual. Não olham para o lado nem para a frente,
portanto é possível deduzir que o resultado virá mais pela sorte e não
necessariamente será bom.
Achei
a metáfora muito interessante, e frequentemente recorro a ela, na talvez ingênua
busca de não repetir este tipo de equívoco.
Há
poucos meses, o diretor-científico da FAPESP[1], Carlos Henrique de Brito
Cruz, disse que “o impacto intelectual da ciência feita no Brasil tem sido
muito baixo”. Impacto intelectual se caracteriza por ideias que criam ideias e
que são então muito citadas na literatura científica mundial.
Fiquei
pensando no impacto intelectual das pesquisas sobre Turismo no Brasil. Não me
lembro da criação de um modelo, ou da sugestão de uma abordagem que fosse gerada
no Brasil e replicada em algum outro lugar do mundo.
Dos
exemplos cotidianos, fico me perguntando – se você estudou turismo e leu tudo o
que te pediram, quantas vezes conseguiu comprovar que a proposta de fato
acontecia? Quantas vezes um dado comportamento se repetiu na sua frente, para
ser caracterizado como replicável, e portanto enquadrado em uma teoria?
E
os planos diretores que você leu, ou contribuiu, foram implantados? E
monitorados? Trouxeram o resultado que se esperava? Que cidades são os melhores
exemplos de aplicação das teorias, e que você tem certeza que funcionam?
Na
minha opinião, as teorias do turismo refletem o passado. Elas devem ser
compreendidas como tentativas de explicar algo que na verdade precisa ser
vivenciado, experimentado, aprendido com olhar de cliente e com olhar de
prestador de serviço. Não ensina a servir quem nunca serviu, não ensina a fazer
quem nunca fez (apesar de alguns ditados dizerem o contrário).
As
teorias (do turismo, no caso) servem para que você duvide delas o tempo todo, e
se preocupe em entender o que de fato está acontecendo ao seu redor, e o que
está por acontecer. Como foi é importante para registro histórico, mas
dificilmente será da mesma forma novamente.
As
pessoas mudaram, muito. Seu comportamento hoje reflete uma mudança na forma
como obtém informações e como tomam decisões. Elas não agem mais como diziam os
livros de 1970, 1990 e até 2000. Elas agem como você e eu.
Então
cuidado, pode ser que você tenha escolhido seguir alguém que está dirigindo
olhando pelo retrovisor.
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